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Piano deslocado, (des)afinado

  • Foto do escritor: Nely Silvestre
    Nely Silvestre
  • 19 de set. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 11 de out. de 2022


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Aprendi há pouco tempo que um piano, quando transportado de um lugar para outro, precisa ser novamente afinado pois o deslocamento abala suas estruturas internas. Então, chama-se um afinador que ajusta as cravelhas para que novas e velhas melodias possam ser novamente tocadas. Fiquei refletindo que diante das mudanças, somos meio “piano”. Você se sente meio desafinada(o) quando acaba de viver uma mudança?


Eu sinto o corpo meio desajustado querendo achar novamente a zona de conforto e um constante frio na barriga. Minha mente fica meio tonta, tipo computador reiniciando, buscando novos sentidos num outro contexto. Passei por uma grande mudança há pouco tempo: deixei a Building8, empresa que fui sócia por nove anos, para experimentar novos rumos que, no momento da saída, ainda não estavam claros pra mim. Apoiei-me na certeza do sentir e da intuição que me imploravam para seguir em frente mesmo cheia de medos e com muita coragem, tudo ao mesmo tempo. O começo foi difícil, sentia minhas cordas bastante desafinadas e as minhas “cravelhas” sem ponto de apoio. Recomeçar é tocar música sem partitura, encontrar notas no escuro.


Tem horas que bate aquela vontade de voltar pro quentinho do lugar seguro e conhecido, mas não há como. Pra mim a saída foi manter sentidos aguçados, acalmar o ego e a mente, afiar a conexão com o coração – ele sabe enxergar na penumbra e aquece todo e qualquer frio na barriga. Assim, dia após dia, fui afinando-me e deixando-me afinar, em voz ativa e passiva, unindo mundo interno e contexto externo.


Também foi importante perceber quem eram os “afinadores” ao meu redor. Sabe aquela(s) pessoa(s) que te lembra(m) de quem você é? Que conhece teus melhores acordes e tuas notas mais desafinadas? Que te dá força quando você se sente um piano condenado a ser objeto esquecido no canto da sala? Encontrei alguns afinadores neste caminho e sou imensamente grata por isso. Descobri, inclusive, que sei afinar minhas cordas e notas – revisitei todas elas com atenção e amor. Algumas escolhi deixar de usar e outras tocarei por muito tempo ainda. Meu piano deslocado encontrou nova casa. Sinto-me afinada para tocar novas e antigas melodias com o entusiasmo de uma jovem aprendiz e a sabedoria de uma musicista experiente.


Quer conhecer minhas “músicas”? Me chama. Vou adorar te mostrar e contribuir com a sua sinfonia, unindo prosa e poesia. foto de Vidar Nordli-Mathisen no Unsplash



 
 
 

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